Noutro dia
algo incomum
outra tarde de sol
desta vez tudo estava mais silencioso
O poeta quase que ausente
entregava-se aos seus devaneios
escrevia suas linhas sem brio
talvez à espera do presente
do acaso ou do destino
quem saberá?
À direita dele
onde estavam os jovens perdidos de outrora
se encontrava agora um senhor
que ostentava com orgulho
suas rugas
sua corcunda demasiada acentuada
A sua face transparecia uma aparente serenidade
Era o avanço da idade
a brutalidade do tempo
Ao seu lado um cão marrom
pela pelagem
certamente labrador
que lhe fazia compania
como um fiel escudeiro
breve instante se passou
o velho se levantou
e pôs-se à caminhar
ele e seu cachorro
sumiram bem devagar
cruzaram a esquina do quarteirão
E não voltaram mais
Abaixo
a mesma árvore
só que desta vez
A mulher cujo sorriso
furtou do poeta um poema
Aquela
cujo olhar era penetrante
interessado
E tão faceiro
que lhe lembrava Capitu
em obra de Mestre Machado
Ali já não estava Ela
Apenas folhas secas de inverno
que voavam com a valsa do vento
Isso causara ao poeta uma sensação
um estranhamento
O céu mostrava sua vastidão
O sol demorava a se pôr
Os versos
escorriam da caneta
empunhada firmemente
pela mão calejada do escritor
As horas passam sem o menor compromisso
quando se esquece os ponteiros
O vento refresca o corpo e a alma
quanto tudo é deserto
Talvez fruto do acaso
Talvez divina providência
Tudo estava perfeito
não fosse um detalhe
O perfeito não existe
A espera acaba
o poeta se levanta
e se põe ao mesmo passo do velho
à caminho de casa
Era hora de ir...
continua
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salve valeu pela visita!!!!volte sempre