Noutro dia algo incomum outra tarde de sol desta vez tudo estava mais silencioso O poeta quase que ausente entregava-se aos seus devaneios escrevia suas linhas sem brio talvez à espera do presente do acaso ou do destino quem saberá? À direita dele onde estavam os jovens perdidos de outrora se encontrava agora um senhor que ostentava com orgulho suas rugas sua corcunda demasiada acentuada A sua face transparecia uma aparente serenidade Era o avanço da idade a brutalidade do tempo Ao seu lado um cão marrom pela pelagem certamente labrador que lhe fazia compania como um fiel escudeiro breve instante se passou o velho se levantou e pôs-se à caminhar ele e seu cachorro sumiram bem devagar cruzaram a esquina do quarteirão E não voltaram mais Abaixo a mesma árvore só que desta vez A mulher cujo sorriso furtou do poeta um poema Aquela cujo olhar era penetrante interessado E tão faceiro que lhe lembrava Capitu em obra de Mestre Machado Ali já não estava Ela Apenas folhas secas de inverno que voavam com a valsa do vento Isso causara ao poeta uma sensação um estranhamento O céu mostrava sua vastidão O sol demorava a se pôr Os versos escorriam da caneta empunhada firmemente pela mão calejada do escritor As horas passam sem o menor compromisso quando se esquece os ponteiros O vento refresca o corpo e a alma quanto tudo é deserto Talvez fruto do acaso Talvez divina providência Tudo estava perfeito não fosse um detalhe O perfeito não existe A espera acaba o poeta se levanta e se põe ao mesmo passo do velho à caminho de casa Era hora de ir...
Faz sol. Há tempos que não o vejo no sul geralmente o céu é coberto de cinza mas nessa tarde em especial e também um pouco cálica os pássaros cantam diferente formando uma divina orquestra uma big jazz band Há jovens perdidos do novo milênio se entorpecendo logo ao lado Abaixo uma árvore que abraça as costas de uma morena linda que sentada aos seus pés se entrega aos seus devaneios O corpo jaz a alma ausência Foi então que aparece Ele se aproximando e se ajoelhando aos pés daquela mulher Lhe fala balelas e falenas ao pé do ouvido e consegue lhe furtar um sorriso sem graça Talvez o começo de um recomeço ou não Talvez o começo do fim Após um breve instante de silêncio ela monolítica enigmatica Monalisa Ele orgulho imponente vira as costas e se vai sem dizer mais Ela enxuga as lágrimas que lhe lavaram a face Os pássaros cantam mais alto janelas se abrem portas se fecham O mundo e o tempo não param Ao canto o poeta que tudo observa Ela lhe nota e fica inquieta os jovens ainda perdidos porém satisfeitos e entorpecidos continuam logo ao lado Ainda de baixo da árvore ela lhe fere outro olhar mais penetrante mais interessado e o poeta imovel casmurro calado Ela já mais à vontade estíca suas pernas icógnitas por uma calça preta e seus pés por botas também pretas contrastando harmoniosamente com uma blusa bege que lhe cobri o busto Assim como em um jogo de flertes ela lhe furta a atenção Desta vez se atentou em ajeitar o cabelo arregaçou as mangas da blusa e lhe mostrou os braços O poeta olha atônito sente-se confuso... Não faz idéia de que ao invés de expectador passa ser atuante desta cena desse triangulo de amor Seu coração por um instante palpita estranhamente e logo volta a seu ritmo normal e continua a observar Mas é ela quem toma as rédias da situação se levanta e caminha em sua direção trocam olhares desta vez diretos e indiscretos Ela chega e lhe pede um cigarro ele lhe dá ela se senta ao seu lado lê seu poema e lhe dá O sorriso ele devolve Entre conversas olhares e cigarros o sol se vai a tarde finda O poeta se levanta como fosse embora obviamente contra sua vontade Naquele instante o poeta quereria O tempo sem ponteiros Sorrisos de Jussara Abraços de Dandara Seu corpo por inteiro Mas não... ele se foi Como foi-se aquele outro O primeiro