quarta-feira, 19 de agosto de 2009

dia daquelas





Essa noite fui dormir Homem ... E acordei Inseto





quinta-feira, 6 de agosto de 2009

triangulo II

Noutro dia
algo incomum
outra tarde de sol
desta vez tudo estava mais silencioso
O poeta quase que ausente
entregava-se aos seus devaneios
escrevia suas linhas sem brio
talvez à espera do presente
do acaso ou do destino
quem saberá?
À direita dele
onde estavam os jovens perdidos de outrora
se encontrava agora um senhor
que ostentava com orgulho
suas rugas
sua corcunda demasiada acentuada
A sua face transparecia uma aparente serenidade
Era o avanço da idade
a brutalidade do tempo
Ao seu lado um cão marrom
pela pelagem
certamente labrador
que lhe fazia compania
como um fiel escudeiro
breve instante se passou
o velho se levantou
e pôs-se à caminhar
ele e seu cachorro
sumiram bem devagar
cruzaram a esquina do quarteirão
E não voltaram mais
Abaixo
a mesma árvore
só que desta vez
A mulher cujo sorriso
furtou do poeta um poema
Aquela
cujo olhar era penetrante
interessado
E tão faceiro
que lhe lembrava Capitu
em obra de Mestre Machado
Ali já não estava Ela
Apenas folhas secas de inverno
que voavam com a valsa do vento
Isso causara ao poeta uma sensação
um estranhamento
O céu mostrava sua vastidão
O sol demorava a se pôr
Os versos
escorriam da caneta
empunhada firmemente
pela mão calejada do escritor
As horas passam sem o menor compromisso
quando se esquece os ponteiros
O vento refresca o corpo e a alma
quanto tudo é deserto
Talvez fruto do acaso
Talvez divina providência
Tudo estava perfeito
não fosse um detalhe
O perfeito não existe
A espera acaba
o poeta se levanta
e se põe ao mesmo passo do velho
à caminho de casa
Era hora de ir...








continua

triangulo

Faz sol.
Há tempos que não o vejo
no sul geralmente o céu é coberto de cinza
mas nessa tarde em especial e também um pouco cálica
os pássaros cantam diferente
formando uma divina orquestra
uma big jazz band
Há jovens perdidos do novo milênio se entorpecendo logo ao lado
Abaixo uma árvore
que abraça as costas de uma morena linda
que sentada aos seus pés
se entrega aos seus devaneios
O corpo jaz a alma ausência
Foi então que aparece Ele
se aproximando e se ajoelhando aos pés daquela mulher
Lhe fala balelas e falenas ao pé do ouvido
e consegue lhe furtar um sorriso sem graça
Talvez o começo de um recomeço
ou não
Talvez o começo do fim
Após um breve instante de silêncio
ela monolítica
enigmatica
Monalisa
Ele orgulho imponente
vira as costas e se vai
sem dizer mais
Ela enxuga as lágrimas que lhe lavaram a face
Os pássaros cantam mais alto
janelas se abrem
portas se fecham
O mundo e o tempo não param
Ao canto o poeta que tudo observa
Ela lhe nota e fica inquieta
os jovens ainda perdidos
porém satisfeitos e entorpecidos
continuam logo ao lado
Ainda de baixo da árvore
ela lhe fere outro olhar
mais penetrante
mais interessado
e o poeta imovel
casmurro
calado
Ela já mais à vontade
estíca suas pernas icógnitas por uma calça preta
e seus pés por botas também pretas
contrastando harmoniosamente com uma blusa bege que lhe cobri o busto
Assim
como em um jogo de flertes
ela lhe furta a atenção
Desta vez se atentou em ajeitar o cabelo
arregaçou as mangas da blusa e lhe mostrou os braços
O poeta olha atônito
sente-se confuso...
Não faz idéia de que ao invés de expectador
passa ser atuante desta cena
desse triangulo de amor
Seu coração por um instante palpita estranhamente
e logo volta a seu ritmo normal
e continua a observar
Mas é ela quem toma as rédias da situação
se levanta e caminha em sua direção
trocam olhares
desta vez
diretos e indiscretos
Ela chega e lhe pede um cigarro
ele lhe dá
ela se senta ao seu lado
lê seu poema
e lhe dá O sorriso
ele devolve
Entre conversas
olhares e cigarros
o sol se vai
a tarde finda
O poeta se levanta como fosse embora
obviamente contra sua vontade
Naquele instante o poeta quereria
O tempo sem ponteiros
Sorrisos de Jussara
Abraços de Dandara
Seu corpo por inteiro
Mas não...
ele se foi
Como foi-se aquele outro
O primeiro













continua...