terça-feira, 31 de julho de 2012

Presente

Eu precisava ver o fim do samba
arrumar a bagunça
retirar de dentro
a minha TV
mergulhar no profundo mistério

na ponta de um cacto de dez metros
onde o sol se vai galope
todo universo-inverso dentro de mim
feito mosaico macunaímico
ou outra prosa andradiana

a ficha caiu a poeira que sou
que se importa com coisa desimportante
que faz poemas indiziveis de amor a todo instante

que se pergunta a toda hora
como acordar triste durmir alegre
estar só
mas acompanhado
dançar nem que for parado
faz sentir isso
que chama vinicius
vivo

Foi logo alí
enquanto atravessava avenidas
desluzidas e desmazeladas
vi desiludidas-matutinas-meninas
semi-sinceras e sequeladas
que gritavam exasperadas:

Je suis ce que je veux être!
vive le rock de la vie!

Passaram elas eu passarinho
após o convescote
entre raposas e coiotes
agradeci o Arquiteto
pelo pão e pelo verso
pelo acaso e o novo
por ter passado
agradeci mais depois
por ter presente

quinta-feira, 26 de julho de 2012

De vagar num cabaré

Ultimamente ando de vagar
à procura do porto de Ítaca
eita estrada estreita!

Já jazzbandolei por noites intermináveis
baguncei ao som de John Coltrane

fiz promessas pra esquecer um passado prematuro
fiz também poesia-podreira pra plateias burguesas
de palavrinhas, palavras, palavrões
clichês e chavões
fiz tudo que não permitiam
as convenções

transgredi a NOrma
não ouvi minha mãe
que dizia aflita:
Meu filho, não!

Comecei um romance-moderno
acabei rodeado por elas, só
num cabaré
de vagar

O que o amor não comeu em "Os Três Mal-Amados"

Joaquim:

O amor só não comeu
minha poesia
minha musica
e meu cú.

Cuidando de idosos

E o velho sentia enorme vontade de rir e chorar,
um misto de desespero, demência e felicidade.
Era hora da injeção!

poesia informativa

Atenção:

O uso do "Foda-se"
está formalmente liberado
em reunioes executivas
bate papo filosofico de boteco
cartas de amor
jogos de azar
e em demais locais
outrora
inapropriados

Use com ciência
sem moderação

quinta-feira, 19 de julho de 2012

PÍLULA APOCALÍPTICA DO ESQUECIMENTO DE UM PASSADO PRÉ-MATURO NOVIDADE NO MERCADO DOS AFLITOS

VENDEm-SE PÍLULAS:

ANTICONCEPCIONAIS
DE VITAMINA C D E
DOS DIAS SEGUINTES
CINEMATOGRÁFICAS
TEATRAIS
LISÉRGICAS
ETÍLICAS

NA PROMOÇÃO DE HOJE
PÍLULAS PARA ESQUECER ONTEM.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Indigesto

Hora de almoço
salada de xuxu
sem gosto nem sal
entre a guarnição
o garrafa de tubaina sem gas

Eis a voz da consciencia:

para os quintos
de uma mercearia
para os quartos do paraiso
vocês

-Tragam-me a porra da pimenta
pra eu queimar minha boca suja
e escarrar nesse prato de patifaria
bon appétit.

sábado, 14 de julho de 2012

Ferida em Garrafa

Impressionante como elas
parecem distantes
quando são desconhecidas

As coisas
os caminhos
os corpos
as agonias

Imensas avenidas
soltas distraídas
sempre abertas

Eterna vereda
de um passado novo
A dor e delícia
de um corte e gozo
corte gozo.

O mais
é indizível
indivisível
antes do cair da noite

terça-feira, 3 de julho de 2012

Desconfio

Tive um sonho
que em tudo
não foi sonho
era um misto
de lucidez
e doidice aguda

Flora-se

Quero
que o mundo inteiro
se flora
com o elo
de todas as cores

Sem ponto nem vírgula

meu verso
não tem ponto
nem virgula
é como eu
errante

Carta endereçada

Num eterno pra sempre
agora lhe bastava
jugava tê-la eternamente
em mente
nos braços
em pernas
nos lábios
em olhos dela
eram mil maneiras
laberínticas de sorrir
esfinge-bachiana
bailarina-enigmática
Dissimulando
o poeta
começou
a devora-la
em versos

Russo suicida

Ontem a noite
eu vi o seu retrato
quando em sonho
fui ao plano
etéreo passear
Pois a vida aqui
andava um saco
e os copos de veneno
não adiantam

"Mas você ri como uma menina
que se atormenta com seus pensamentos"
Eu sou um russo suicida
que a vã lembrança atormenta

Lá estavam
eu você nós dois
e todos os nós
que se atavam a nós
mesmo de sós

Mesmo se tratanto de quimera
aquela primavera
que era tão bela
pertenceria a nós

"Mas você ri como uma menina
que se atormenta com seus pensamentos"
Eu sou um russo suicida
que a vã lembrança atormenta

Vem

sou movido pelas palavras:

- Vem, amor!

Também

Se ela for
a mulher de minha vida
vou respeitá-la muito
amá-la mais ainda
E se não for,
também.
As sirenes azuis
funebravam
a manhã de sol de terça
e denunciavam
mais uma partida.